quinta-feira, 30 de julho de 2009

COLETA SELETIVA: QUEM É O PROTAGONISTA

Antonio de Almeida,
em defesa do catador como protagonista da Coleta Seletiva


Esta matéria foi por Antonio de Almeida; presidente do Conselho de Responsabilidade Social da Fieg, presidente do Sindicato da Indústria Gráfica do Estado de Goiás (Sigego) e Abigraf/Regional Goiás e diretor-presidente da Editora Kelps; e publicada no dia 08 de abril de 2009 no Diário da Manhã. Infelizmente, as informações que o sr. Antonio de Almeida apresentam continuam atualizadíssimas. Destaque para o compromisso que o Sr. Walter Pereira da Silva, secretário da SEMAS assumiu com os catadores e não cumpriu até hoje.

Coleta seletiva: quem é o protagonista?
Antônio de Almeida

A busca da sustentabilidade é hoje o maior desafio da humanidade. Esta busca constitui elemento estruturante nos compromissos assumidos em 2000 por todos os 191 Estados-Membros das Nações Unidas e que se constituem nos “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”, a serem cumpridos até o ano de 2015.

Em seu conjunto, o documento estabelece bases indispensáveis para a construção de um mundo melhor, fundado no compromisso coletivo de respeitar e defender os princípios da dignidade humana, em escala mundial.

Dentro deste contexto, destaca-se o sistema de recolhimento de materiais recicláveis, como papéis, plásticos, vidros, metais e orgânicos, que podem ser reutilizados ou reciclados. Ele funciona como um verdadeiro processo de educação ambiental, na medida em que sensibiliza a comunidade sobre os problemas do desperdício de recursos naturais e da poluição causada pelo lixo. Não obstante, o desafio para se encontrar a solução para o manejo sustentável do lixo deve ser fruto também do empenho de cada cidadão, que tem o poder de recusar produtos potencialmente impactantes, separar resíduos, facilitando assim os processos de coleta e reciclagem.

Neste sentido é que instituições civis e governamentais em parceria com o Movimento de Catadores de Materiais Recicláveis de Goiânia, criaram em maio de 2007 o Fórum sobre Coleta Seletiva de Material Reciclável e Inclusão Social. O seu o objetivo é contribuir para a qualidade de vida da sociedade, no que se refere à administração do lixo urbano e, a partir desse ponto, propor modelos de gestão de resíduos que contemplem as questões ambientais e sociais.

A árvore frondosa do Fórum rendeu bons frutos, como a Ação Cidadania para os Catadores de Material Reciclável, que se assemelha à Ação Global do Sesi, no bairro Residencial Senador Albino, onde foram desenvolvidas várias ações importantes, com o apoio do empresariado, nas áreas da saúde, educação, recreação e meio ambiente. Com essa aproximação, houve uma sensibilização para os problemas relacionados às condições de trabalho dos catadores.

Este ano, porém, iniciou-se com uma mudança no campo institucional, que vem causando muitos aborrecimentos. O centro de articulação da prefeitura sobre este assunto passou da Comurg para a Secretaria Municipal de Assistência Social. O secretário Walter Silva solicitou um voto de confiança ao Fórum, no sentido de que a Pasta providenciaria a regularização das cooperativas.

No entanto, até o presente momento pouco foi feito junto às cooperativas de material reciclável.

A prefeitura não está conseguindo consolidar o processo de gestão das cooperativas. E o resultado é que muitas estão fechando e, por conseguinte, trazendo o fantasma do desemprego para as famílias e também a volta dos carrinheiros às ruas.

O catador reclama que está sendo excluído da sua posição de protagonista neste processo. Todos os debates sobre o modo como fazer a coleta seletiva na cidade foram ignorados. A coleta seletiva deveria ser feita pelo catador, através de carrinhos e caminhões. O material levado pela Comurg não é capaz de sustentar os cooperados. Criou assim uma crise nas cooperativas, fazendo com que muitos cooperados voltem aos depósitos e para a rua. A prefeitura tirou os caminhões das cooperativas e associações, tomou os pontos de coleta históricos que as cooperativas e associações já tinham há 2 ou mais anos, excluindo totalmente os catadores da ponta do projeto de coleta seletiva. O caminhão nas mãos da Comurg tem sido incapaz de gerar renda. Criou-se uma situação em que o catador tem que esperar nos galpões o material coletado que não vai vir. Diante disso, o processo de coleta seletiva de Goiânia precisa urgentemente ganhar mais celeridade, racionalidade e comprometimento do Poder Público, sob pena de seu completo estrangulamento, com drásticas consequências sociais e ambientais. Deve-se estruturar as cooperativas, construindo as centrais de triagem prometidas e colocar o catador, que já é capacitado para este trabalho, no centro da coleta com o caminhão.

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